quinta-feira, julho 06, 2017

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Não mais que de repente...



Por Hermes C. Fernandes 

De repente, você percebe que tem mais estrada para trás do que para frente e que alguns dos cenários que você visitou, jamais voltará a visitar.

De repente, você se dá conta de que não terá tempo para experimentar tudo o que gostaria, nem de ler todos os livros que deixou na fila de espera, nem de escrever tudo o que já foi gestado em sua imaginação.

De repente, você descobre que não sabe tanto quanto achava saber e que nem sempre tem disposição para aprender.

De repente, você percebe que nem é tão importante quanto julgava ser e que algumas pessoas simplesmente lhe esquecerão tão logo você se afaste delas.

De repente, você percebe que na vida de alguns, você é apenas um coadjuvante, e que na vida de outros, apenas um figurante, e que na vida de alguns, nem mesmo isso. Algumas vezes, terá que se contentar com o papel de vilão. De uma coisa você pode estar certo: você nunca será uma unanimidade. Mas caberá a você assumir o papel de protagonista de sua própria história.

De repente, você se dá conta de que a sua felicidade poderia custar a infelicidade de outros, que toda escolha implica uma renúncia, mas também uma conquista.

De repente, você descobre que não é mais o ídolo dos seus filhos, desde que o andor balançou e perceberam que o seu herói não passa de um boneco de barro que facilmente se espatifa no chão. O que lhe consola é saber que isso faz parte do processo de amadurecimento pelo qual você mesmo passou com relação aos seus pais.

De repente, você conclui que a vida não deve ser levada tão a sério, mas encarada com mais leveza, sem jamais perder a esperança de ser feliz, buscando, ao mesmo tempo, facilitar a felicidade dos demais.

De repente, você aprende a se contentar e a ser grato com o que tem, sem precisar ficar comparando com os que outros conquistaram.

De repente, você aprende que não vale a pena se apegar a coisa alguma, pois entende que isso lhe preparará para seu último ato de rendição e entrega, o da própria vida no momento derradeiro.

De repente, você percebe que o que te encanta, nem sempre é o que encanta os outros e que cada um enxerga a vida com a cores de seu próprio coração.

De repente, você chega à conclusão de que é total perda de tempo tentar mudar as pessoas. Elas são o que são e devem ser aceitas exatamente assim.

Não mais que de repente, a ficha cai e você percebe que o que parecia ter acontecido "de repente", na verdade foi fruto de um longo processo de maturação que lhe custou calos nos pés, lágrimas nos olhos e dores no coração.

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